segunda-feira, 3 de setembro de 2012

NÃO, FILHO, NÃO, NÃO E NÃO


Dias desses, buscando minhas filhas na escola, presenciei uma grande birra de uma criança do maternal, possivelmente com dois ou três anos. A criança não aceitava sentar no banco traseiro do carro e dotada de uma saudável garganta irritava a todos que passavam pelo estacionamento. Para encurtar a narrativa, o carro partiu com a mãe dirigindo, a criança no banco do passageiro e a avó no banco traseiro do carro. A cena pode ser diversificada pelos atores ou pelo espaço mas o final muito me preocupa: por que a grande maioria dos pais não consegue dizer não aos filhos? Por que cada vez mais, crianças em idades tão prematuras manipulam todo o contexto familiar?
Parece-me que para muitos pais frustrar momentaneamente os filhos é sinônimo de fazer filhos infelizes. Será que estar sorrindo sempre, em todos os momentos, satisfeitos por seus desejos atendidos é sinal de felicidade? Será que os pais acreditam que é papel dos pais “dar” felicidade? Pode ser alguém responsável pela felicidade de outro? Por que é tão difícil estabelecer limites aos filhos mesmo que ainda bebês? Será que essa mãe que não consegue colocar o filho de dois anos no banco traseiro do carro vai conseguir livrá-lo das drogas aos treze? Será que muitos pais presenteiam seus filhos em exagero, tantos brinquedos, tantos equipamentos, tantas roupas e calçados, pensando que isso os farão felizes? Será que o sorriso de uma criança que acaba de ganhar o centésimo brinquedo é sinal de felicidade? Será que é por isso que muitos pais diante de um possível fracasso escolar dos filhos, adiam seus compromissos pessoais para colocar o material do filho em dia, buscam professoras particulares que trabalhem arduamente nas vésperas de provas ou ainda telefonam para a escola dizendo que o pobrezinho está com febre e não poderá comparecer à avaliação?
Ver o filho chorando, gritando, esperneando, emburrado, triste, ou mesmo de carinha fechada após ter algum pedido negado pelos pais pode ser dolorido demais para alguns pais que se sentem causadores de dor ou tristeza. Negar, colocar um limite, apresentar a justiça, a realidade social, parece ser dramático demais para aqueles que acreditam que “dão” felicidade. Não seria mais justo pensarmos que o papel dos pais não é “dar” felicidade mas sim criar condições para que seus filhos sejam felizes? Uma infância cercada de equilíbrio, amor, educação, saúde, segurança, alimentação, justiça, valores, limites, religião, cria condições para a que a felicidade se concretize. Nesse sentido, os pais são os provedores de grande parte das condições para o equilíbrio, sobre as quais, cada indivíduo, dotado de livre arbítrio, escolherá o seu caminho.
Os filhos precisam enfrentar desafios, desejar, sonhar, frustrar-se, vencer barreiras e etapas, conquistar. Isso os fará capazes e seguros. Um filho que se frustra e luta para conquistar seu desejo é como um carro com o tanque cheio de combustível, vai longe. Só que para encher o tanque é preciso uma parada, uma pausa para reabastecimento. A auto-estima é o tanque cheio de combustível.
Freqüentemente oriento pais e avós quanto o uso das expressões “coitadinho” ou “judiação”. Não conheço “coitadinhos” que tenham alcançado equilíbrio ou sucesso. Coitadinho é dependente, frágil, depressivo e incapaz. Filho precisa de amor mas de amor inteligente. Filho precisa de colo mas de colo saudável. Filho precisa de pais presentes, de orientações, de referenciais. Filho precisa saber que é filho e não o chefe da casa!Filho precisa ouvir “não” e se entristecer por um instante para que possa sorrir por uma vida. Feliz é aquele que sabe crescer, mudar, lutar, adaptar, aprender e vencer diante de um “não” da vida.Felicidade possui aquele que diante de um “não” da vida passa a pensar diferente, passa a ver com outros olhos, passa a andar com outras pernas. A vida não nos poupa e ninguém melhor do ela para nos ensinar!
Texto: Adriane Albuquerque Cirelli - Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Hospitalar.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

CADA UM TEM DE CARREGAR O PRÓPRIO FARDO


Uma das grandes verdades espirituais é : cada pessoa deve conseguir a sua própria salvação pessoal.Quando uma pessoa de quem você gosta está com problemas, você pode se aproximar para auxiliar na sua cura, mas depois de um certo ponto você não poderá fazer mais nada.Por mais que seja o seu amor, você não pode carregar o fardo de outra pessoa.
O que você tem a fazer quando alguém que você ama está sofrendo?
Em primeiro lugar, afirme que há um propósito por detrás dessa experiência.Saiba que a alma tem alguma lição importante a aprender, o que será de grande valor para essa pessoa.
Em segundo lugar, apesar de não poder intervir diretamente, suas preces e seus pensamentos positivos fazem muita diferença.Visualize o seu amigo cercado de luz e de amor.Esse tipo de cura age diretamente no nível da alma e não encontra resistência por parte da mente consciente.
Finalmente saiba que a proteção Divina está presente.
As forças de luz estão sempre á disposição de quem pede ajuda.Em ultima análise, nenhuma alma pode se perder, todos os que pedem serão guiados á segurança de sua morada espiritual.
AFIRMAÇÕES:
1.Eu assumo a responsabilidade pela minha própria vida.
2.Permito que os outros assumam a responsabilidade pelas suas vidas.
3. Todas as coisas estão agindo em conjunto para o bem na vida das pessoas que amo.
4. Dou aos outros, liberdade para descobrir e seguir os seus próprios caminhos.
5. Livro-me da necessidade de fazer os outros agirem conforme as minhas expextativas.
6.Qual a sua própria afirmação?

( Fonte : Texto trabalhado durante o curso intensivo Trabalhando com Casal e Família - Jaqueline de Cássia -2011)
Nádila Walter - Psicoterapeuta de Família e Casal

terça-feira, 10 de julho de 2012

PARA AMAR E SER AMADO

Amar e ser amado: anseio dos que podem se entregar a este “luxo” ou, simplesmente, necessidade vital? Eu ousaria apostar na necessidade vital, ainda que tantas pessoas, ao longo de toda a história, pouco ou nada experimentam deste tão forte e delicioso sentimento. É ele que nos humaniza. É a sua ausência que nos torna rudes, hostis, simultaneamente frágeis e perigosos.
Quando nasce um bebê, estamos diante de um enorme ponto de interrogação. Aí está ele, com sua bagagem genética a sugerir tendências e limites, e com uma identidade registrada e reconhecida (ou não) pela família e em cartório. Não sabemos o que lhe reserva o futuro, “quem” ele virá a ser e como haverá de viver a sua vida, pois, para constituir-se e desenvolver-se “como pessoa”, ele depende dos estímulos e das oportunidades que receber. De como é ou deixa de ser amado. Em casos desfavoráveis, desumaniza-se, ou nem chega a se humanizar.
Somos quem somos devido a uma série de oportunidades que, desde o berço, a vida nos oferece. Passo a passo, aprendemos a nos defender da dor, a suportá-la, a buscar o prazer, a trilhar caminhos que nos dão a certeza de que viver é muito bom. Nada disso, porém, é linear, nada disso é fácil. Só que, além de reconhecermos a complexidade da vida, alguns de nós temos o dom de complicar as coisas mais simples, de buscar a felicidade onde ela não está e de projetar as frustrações em possíveis culpados, ao invés de assumirmos a responsabilidade sobre nossas escolhas. 
Amar e ser amado penso que seria o natural, como uma boa semente que germina e se desenvolve em solo fértil e em clima favorável. O que é próprio da natureza viva, porém, necessita que sejam cumpridas algumas pré-condições para atingir o mais pleno esplendor. Muito do que somos e vivemos está diretamente vinculado a heranças que vêm sendo repassadas de geração a geração. Nem por isso é válido nos colocarmos no papel de devedores, vítimas ou vingadores. Afinal, o modo como administramos nossas possibilidades faz toda a diferença e, se é verdade que, sendo amados aprendemos a amar, também é verdade que, amando, teremos como retorno o fato de sermos verdadeiramente amados.
Este, enfim, é o tema central desta coluna: “Para amar e ser amado”, cujo próximo encontro será sobre “E por falar em bebês”, tendo como objetivo repensarmos nossa história pessoal e como ela pode influenciar em nossas histórias de amor e em nossa sexualidade.

Autora: Iara Camarata Anton

* Iara Camaratta Anton é psicóloga, psicoterapeuta individual e de casais. Escritora, autora dos livros “A Escolha do Cônjuge – um entendimento sistêmico e Psicodinâmico”; “Homem e Mulher – Seus vínculos secretos”; "Cegonha à Vista! E agora, o que vai ser de mim?...”; “O casal diante do espelho. Psicoterapia de Casal – teoria e técnica”. Site: www.iaracamaratta.com.br.

sexta-feira, 15 de junho de 2012


MUDANÇAS...

Que maravilha se pudéssemos mudar na pessoa que a gente ama tudo aquilo que a gente não gosta nela. Mas sabemos bem: se acaso a gente tivesse esse poder, assim que a pessoa mudasse nós desistiríamos dela, pois já não a reconheceríamos como aquele ser imperfeito por quem nos apaixonamos delirantemente.

Pois mesmo a gente estando careca de saber da nossa impossibilidade de transformar nossos queridos imperfeitos em bonequinhos obedientes, seguimos tentando mudá-los. Queremos porque queremos que eles se adaptem ao nosso jeito. Desejamos que nosso namorado seja mais animado, que não seja tão pessimista, que deixe de fumar, que perca a mania de dormir no cinema e que enriqueça o vocabulário, que anda abaixo da linha da pobreza. E ela? Putz, poderia ser mais pontual, ser menos mandona, não ser tão fixada em dinheiro, relaxar e usar umas lingeries mais provocantes: calcinha branca todo dia enjoa!

Você pode mudar seu jeito de ser. Eu posso mudar meu jeito de ser. Não para agradarmos aos outros, mas para sermos mais tolerantes com os defeitos alheios. Eu disse defeitos? Ah, essa mania de rotular as diferenças. Os outros, esses alienígenas, apenas levam a vida num ritmo diferente do nosso, são apegados a outros valores, vieram de outras famílias, foram criados com códigos que a gente desconhece, e é a soma desses fatores que fazem com que eles durmam no cinema ou elas usem lingerie branca ou seja lá o que for que eles fazem que irrita tanto você. Acredite, não é nada pessoal.

Concordamos então que não é possível mudar a carga genética de alguém e muito menos suas manias. Logo, poupe suas energias e mude você. Não é preciso radicalizar, mude apenas uma coisinha: pare de se estressar e aceite as pessoas do jeito que elas são. Ou caia fora. Mudar por sua causa eles não vão. Podem até tentar, e conseguir por algumas semanas, mas quem sai aos seus não degenera. Serão para sempre eles mesmos.
(Martha Medeiros)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sabemos da grande importância da escolha profissional. Muito cedo os adolescentes escolhem o que querem ser no futuro, como querem ser vistos numa sociedade altamente competitiva e que valoriza bastante o trabalho. Quando estamos conhecendo uma pessoa além do nome e onde mora vem a pergunta: O que você faz? As vezes esta pergunta vem antes de muitas outras.

A Escolha profissional faz parte de uma etapa da vida da pessoa que esta escolhendo a sua profissão, mas também de toda a familia deste. Existe um movimento familiar.
Não escolhemos a nossa profissão atoa, esta escolha como tantas outras em nossas vidas tem ligação direta com os nossos modelos familiares que vão nos levar a grandes reflexões, questionamentos e avaliação das nossas habilidades.

A Escolha profissional não responde, apenas, as expectativas pessoais, mas, também, e muito as familiares. Existem forças, muitas vezes, ou sempre, não claras, que podemos chamar de MITOS, que nos conduzem a determinadas escolhas a partir da nossa estrutura familiar e das nossas relações dentro das nossas familias. Fazemos igual ou diferente nas nossas escolhas, não importa, mas não é atoa.

Somos partes de cada membro de nossa familia. Somos fruto de um contexto de relações em que um influencia o outro a todo momento, seja para repetir ou fazer muito diferente. Mas engano nosso é achar que é facil fazer muito diferente.

Um exemplo disso que estou dizendo sobre as escolhas profissionais: " Suzana, uma jovem vestibulanda diz: "Na minha familia tudo é muito junto, nós sempre estamos nos agradando e cuidando um do outro". Ela decidiu ser assistente social, profissão essa com pautas determinadas de ajuda e cuidado" Livro: Família e Mitos.

Perto do Dia 1 de Maio em que comemoramos o Dia do Trabalho vale refletir: Que função a minha escolha profissional tem na minha vida? Que ligação tem com a minha história familiar? Qual o sentido que minha familia dá ao trabalho?
Camila Lobato

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Filhos nos Conflitos Conjugais

Hoje todos os terapeutas de família estão de acordo com a idéia de que o casal é o arquiteto da família.

Então quando os arquitetos resolvem balançar a estrutura dessa construção, que é a família, o que acontece? Todas as peças vão balançar, assim é inevitável que os filhos e toda a família percebam e sintam os conflitos conjugais, mas, ao mesmo tempo, podem existir formas e cuidados para minimizar e proteger os filhos contra estes efeitos negativos.

A primeira forma é cada um dos cônjuges terem consciência dos seus sentimentos sobre o outro para não transferir para os filhos. É necessário os pais trabalharem as emoções no seu casamento e não deixar o conflito conjugal interferir na função de pais. As responsabilidades do casal são diferentes das de pais e ter consciência de cada uma é de fundamental importância.

A segunda forma é não usar os filhos como arma nos conflitos do casal. Um exemplo disso é usar das dificuldades, sintomas ou habilidades do filho como forma de culpar um dos parceiros.  Deixar os filhos envolver nas brigas e dificuldades do casal não é um bom álibi, não é do departamento deles e eles não tem o dever de cuidar e decidir coisas que dizem respeito aos pais. Se os filhos presenciam brigas dos pais é importante deixar claro para eles que seus pais estão passando por conflitos e dificuldades, mas que faz parte da relação e poderá contribuir para o crescimento de ambos. Isso é compartilhar com os filhos as dificuldades do casal, em que o casal deixa claro quais são suas emoções para os filhos e não, detalhes sobre o que cada um dos parceiros fizeram. Fazer isso é uma forma de ensinar os filhos que qualquer relação é permeada por altos e baixos e não para colocá-los como juízes da situação, do lado da mãe ou do pai. 

Além disso, é importante compartilhar com os filhos, também, momentos de alegria e harmonia entre o casal, assim esses vão aprender a lidar e perceber que a vida é feita de bons e maus momentos.
A terceira forma de cuidado com os filhos em meio os conflitos conjugais é favorecer outras redes de apoio as crianças com um maior contato com os avôs, colegas, programas que agradem os filhos, não para esconder a crise dos mesmos, mas para evitar um stress maior.  Eles não estão no centro do conflito, mas não conseguem fugir das suas conseqüências.

É importante os pais terem o cuidado de não culpar os filhos pelas dificuldades do casal. Mais uma vez deixo uma dica: é necessário separar as funções de pai e mãe das do casal, porque é essa situação que poderá contribuir para o filho ter algum sintoma, adoecer, usar drogas e outras questões mais. Os filhos adoecem para ter pais e não para unir um homem a uma mulher. Eles pedem, na verdade, muitas vezes, é o retorno de pai e mãe, não do casal.

Texto: Camila R Lobato

quarta-feira, 28 de março de 2012

Afinal, o que eu tenho realmente buscado?

Janine Araujo

Acho que nunca fizemos tanto quanto na época atual. Desde a evolução tecnológica das duas últimas décadas até a correria no trânsito das grandes cidades, temos que estar sempre em movimento. O tempo não para e por isso ficamos sempre com algo na cabeça, com a necessidade de realizar mil e um projetos em um dia apenas.

Mesmo quando estamos ociosos não paramos! Não nos concentramos naquilo que também não estamos a fazer e ficamos sempre com algo ali ... perturbando. Nem nos momentos de pausas temos conseguido nos silenciar e, então, fico pensando: como realmente nos ocupamos daquilo que fazemos?

Percebi que tenho ficado no automático muitas vezes no meu dia e às vezes tenho a sensação de que fiz muito, mas não fiz nada realmente! E também, que até fiquei à toa, mas não descansei... Vejo que somos enlaçados pelo trivial com tanta facilidade que muitas vezes ele acaba virando um nó! Ora me ocupo muito pouco daquilo que faço, ora um tanto demais! A balança sempre fica assim – com excessos – e a medida exata daquilo que verdadeiramente importa se perde.

Assim, mesmo quando consigo aquilo que queria, tudo passa como um flash e percebo que ainda tenho muito a alcançar. Diante disso, a pergunta que me invade é “Afinal, o que tenho realmente buscado”?

Constato, então, que para buscar e alcançar algo é preciso estar atento e direcionado. Senão tudo fica absolutamente comum, a importância que se dá a uma determinada conquista é tão efêmera que ela nem passa para o campo dos valores. Se realmente não parar para ver como tenho me ocupado da minha vida, ela passará depressa demais e vou conseguir ver apenas aquilo que deixei de fazer...

Portanto, como tudo que está vivo, flui e pulsa, tenho que também achar um compasso pessoal que acompanha o ritmo do universo e, para tanto, preciso orientar-me, fazer as minhas escolhas e esforços para alcançar aquilo que almejo profundamente; enfim, ocupar-me com atenção real do que está ao meu redor, para assim não correr o risco de me perder na rotina e valorizar algo que na verdade não tem valor algum.    

terça-feira, 13 de março de 2012

Quero Ser Grande

Janine Araujo
Ansiamos pela vida adulta: quando crianças estamos sempre na expectativa dos anos que vêm pela frente; na juventude queremos logo ser donos de nós mesmos, termos a tão sonhada independência; mas e quando realmente chegamos à fase adulta, o que nos leva a verificar que estamos “grandes”? Afinal, o que é ser adulto?

Cada um tem uma resposta para definir o que é ser adulto – basta dar uma leve pesquisada nesse termo na internet que vemos desde publicações acadêmicas até as mais divertidas bobagens. Enfim, qualquer que seja a sua resposta para essa pergunta, uma que me foi dada recentemente, tornou-se um grande ponto de provocação.

No curso de Zélia Nascimento, estava diante da argumentação de que temos dificuldade de responsabilizarmos por nós mesmos. Concordo plenamente e vejo isso o tempo todo em mim, nas pessoas à minha volta, na clínica... Diante de algum problema, responsabilizamos todos, até Deus, o cosmos, a falta de sorte, menos a nós mesmos. Não queremos ver a participação que temos em cada mínimo evento da nossa vida e imediatamente pensei na questão de como almejamos ser amparados, voltarmos à criança que existe em nós e termos a quem recorrer, acreditarmos que alguém possa ser o suporte ou que nos ofereça o tão esperado conforto perante as casualidades e problemas que deparamos.

Mas veio um complemento a essa questão – QUEREMOS APENAS RESPONSABILIZARMOS PELOS OUTROS; porém, quem se ocupa disso também são as crianças. Na mesma hora consegui identificar o que estava sendo falado, pois a criança toma os problemas dos adultos como seus. Quantas delas não vemos somatizando diante de algum problema familiar? Quantas não se culpam pelo divórcio dos pais e pensam que se tivessem mantido tudo no lugar, talvez nada disso teria acontecido? Quantas não rezam pedindo a interferência divina para seus pais pararem de brigar, pois por mais boazinha que sejam, não tem adiantado? Enfim, os exemplos são inúmeros e realmente quando contatamos a criança que existe em nós, vemos o quão responsáveis acreditávamos ser – até que a chuva passaria se fizéssemos um ritual mágico para assim a brincadeira não acabar...     

Mas devo ter ficado com essa questão soando em meus ouvidos por mais uns cinco minutos, enquanto outras questões foram sendo tratadas e até houve mudança de assunto durante a referida aula. Não conseguia entender um ponto – “mas como assim, hoje realmente sou responsável por várias coisas e é isso que me torna adulta: tenho que me responsabilizar pelo meu filho, um pouco pelo bem estar do meu esposo, pelas dificuldades da minha mãe em levar adiante seus projetos, o encaminhamento do processo do meu cliente, convencer a minha superiora a mudar certos projetos no trabalho”... Foi então que percebi que a lista somente aumentava e vi que intrometia em assuntos que não me pertenciam. E, enquanto isso, como cuidava de mim mesma? Consegui apenas ver como sou negligente nesse ponto! Daí, um grande estalo aconteceu, a coisa mais óbvia, até já discutida e referenciada, tomou realmente um sentido: queremos ser cuidados ou cuidarmos dos outros, mas jamais de nós mesmos, pois assim, teremos que realmente nos responsabilizar por aquilo que fazemos, como fazemos, o que queremos, para onde vamos nos levar e assumir os intercursos que aparecem no meio do caminho. É mais fácil, portanto, darmos respostas para aquela amiga que está com um baita problemão com o namorado, falar o que o filho deve cursar, pois assim seu futuro vai estar garantido e explicar para o esposo o que ele deve fazer com a própria carreira. E enquanto isso, esperamos também uma mágica resposta vinda de um outro para os nossos problemas.

Para sermos adultos temos que nos esforçar para dar as próprias respostas, irmos ao encontro daquilo que nos pertence, identificarmos o que realmente nos corresponde e assumirmos os riscos. Como consequência, isso vira serviço de utilidade pública – pois aqueles que estão à nossa volta têm também que descobrir as respostas para suas questões. Ajudas são bem vindas, mas intromissões e entrega do problema ao outro, não!

Daí, então, para sermos grandes temos que nos dar ao trabalho, esforçarmos para construir o adulto que almejamos ser. A minha questão, portanto, agora mudou: não é mais o que é ser grande, mas quando fui gente grande hoje?     


  


quinta-feira, 8 de março de 2012

No dia Internacional da Mulher, uma bela reflexão...

DESCOMPLICAR

Leila Ferreira


Se eu tivesse que escolher uma palavra – apenas uma – para ser item obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: DESCOMPLICAR. Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprios, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos para o espelho. Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos a tão falada qualidade de vida que queremos e merecemos ter. Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da mulher moderna. AMIZADE, por exemplo. Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas, acabamos deixando as amigas para segundo plano. E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas. Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora para voltar e repetir as histórias que já nos contamos mil vezes... Deixe o marido ou namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez (desligue o celular, se for preciso) e desfrute os prazeres que só uma boa amizade consegue proporcionar.

E já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano feminino: PAUSA E SILÊNCIO. Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês ou uma vez por dia – não importa – e a ficar em silêncio. Essas pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até cem antes de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio.

Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo RIR. Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia-a-dia. Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada – faça qualquer coisa – mas ria. O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida. Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: GENTILEZA. Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir. Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se colocar no lugar do outro e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa.
E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser indissociáveis da vida: SONHAR e RECOMEÇAR. Sonhe com aquele fim de semana na praia, o curso que você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, (quem sabe),sonhe até que aconteça. E recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares. A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para reinventar a si mesma.

E, por último, risque do seu Aurélio a palavra PERFEIÇÃO. O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades, inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil. Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni. Mulheres reais são mulheres imperfeitas. E mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres. Viver não é (e nunca foi) fácil, mas quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito mais possível.  

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Relação construída aos poucos, sem pular etapas, pode ser mais feliz

Hoje já não é tão comum que um casal passe pelas fases de paquera, namoro e noivado antes de partir para o casamento e isso cria dificuldades. O relacionamento deve ser construído devagar pelas pessoas que acreditam se amar. Elas precisam se aproximar, se conhecer e se adaptar uma à outra. Só então estarão prontas para enfrentar as crises de todo casamento.

No passado, as etapas de um relacionamento de casal eram muito bem definidas e precisavam ser cumpridas. Todos passavam pelo flerte ou paquera, pelo “namorico”, pelo namoro sério e pelo noivado, para, enfim, chegar ao casamento.

Os casais que pulavam fases ou passavam por elas muito rapidamente sofriam o preconceito, a rejeição ou, na melhor das hipóteses, a crítica por parte da família ou da sociedade. Aos poucos, nas últimas quatro décadas, as etapas relacionais sofreram mudanças – resultado de transformações na sociedade e nas famílias, mas também do desejo das pessoas de se sentirem mais livres para agir “do seu próprio jeito”. As fases de avaliação e aprendizagem do relacionamento, consideradas rígidas e antiquadas, foram deixadas de lado. Como terapeuta que acompanha casais em processos preventivos ou curativos, constato que elas fazem falta. Certas dificuldades enfrentadas pelos casais que atendo poderiam ter sido evitadas ou minoradas se aquelas etapas relacionais tivessem sido vividas. Vejamos por quê.

O flerte ou paquera é o momento de mapear, à distância, quem é o outro e o que tem que lhe agrada. É a fase de fantasiar como seria estar junto, que prazeres e que dificuldades poderiam ter juntos. Depois, no “namorico”, o casal pode checar se as fantasias da paquera fazem sentido e avaliar o quanto é bom, de fato, estar na companhia do outro. Também pode avaliar se as diferenças entre o que foi imaginado e a realidade experimentada são possíveis de serem suportadas. É neste momento que um começa a aprender o jeito do outro e a se adaptar ele. Se isso for possível e não excessivamente doloroso, passa-se ao namoro, ou namoro sério, como dizem alguns. É a hora de avaliar o jeito do outro e o seu próprio frente a questões básicas e importantes de um relacionamento estável e comprometido: gostos, manias, projetos de vida, dificuldades, diferenças de jeito de agir e de valores, formas de lidar com o tempo, com o dinheiro, com as responsabilidades, o espaço e a importância que têm os filhos na vida de cada um, as crenças, a fidelidade.

Feita essa avaliação, se concluir que quer realmente ficar junto, o casal passa ao noivado, momento de fazer projetos conjuntos, definir contratos, questionar, flexibilizar e estabelecer modos de enfrentar aspectos da vida em comum.
 
Tudo bem pensado e resolvido, chega a hora do casamento. Os dois estarão prontos, afinal, para definir como será sua vida relacional – diferente da vida da família de cada um deles, porque esta foi construída, etapa por etapa, por eles mesmos. Terão uma base relacional sólida que correrá menos riscos nos futuros e inevitáveis momentos de crise e nos acontecimentos inusitados que podem surgir na vida de qualquer casal.

O importante, portanto, não são os nomes das fases, nem a rigidez ou a duração delas. O importante é a compreensão de que o relacionamento amoroso estável é o resultado de um processo de construção que deve ser levado a cabo pelas duas pessoas que se amam, em conjunto, e que só se concretiza de forma funcional e saudável se passar pelos momentos de aproximação, avaliação e escolha, que permitem ir ajustando – aos poucos e até que fiquem firmes – os laços que as unem.

* Artigo de Solange Maria Rosset
publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 950  de 20/1/2012 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A saída dos filhos

Emocionalmente, a falta das crianças pode ser vivenciada como a perda de um certo lugar, é a "síndrome do ninho vazio"
Por Dorli Kamkhagi
Para algumas mulheres, a saída de casa dos filhos - assim como seu crescimento e evolução – é um sinal de que as coisas andaram bem. Afinal, é quando se percebe que os filhos possuem autonomia e podem pensar em alçar voo solo (às vezes em dupla, no caso de um casamento) que temos mais tranquilidade.
Outras mulheres, porém, sentem uma grande dor neste momento de separação, pois a partida dos filhos remete às questões de temporalidade e da percepção de que novos ajustes deverão ser feitos.
Emocionalmente, a saída dos filhos pode ser vivenciada como a perda de um certo lugar. Alguns especialistas chamam este momento de “síndrome do ninho vazio”. O que nos leva a pensarmos nestes espaços físicos e emocionais que necessitam de novos significados.
Isto quer dizer que o lugar de mãe continua e, talvez, de uma forma mais rica e ampliada. Este filho começa a ter uma outra forma de reconhecer a sua família e pode também, com um certo distanciamento, aprender a reconhecer tudo aquilo que o ajudou a se construir como um adulto que pode e deve ter um caminho próprio a percorrer.
Mas um fenômeno que vem ocorrendo é que muitas mães precisam, ao mesmo tempo, lidar com a saída dos filhos adultos e também encarar o momento em que seus próprios pais estão adoecendo e morrendo. Esta dupla função muitas vezes acaba por adoecer esta mulher, que é mãe, filha e cuidadora. São momentos longos, que podem resultar em adoecimentos e quadros depressivos nestas mulheres que passam por tão difíceis e diferentes situações.
Pode ser necessário uma terapia para conseguir lidar de forma mais tranquila com as perdas. Ter um espaço para poder recuperar a sua história e, principalmente, o desejo de desejar. Este momento de reflexão pode ser de grande eficácia na recuperação de partes desta “mulher” que precisa também reaprender a olhar novamente para si.
Uma imagem baseada na despressurização de um avião me parece própria: “primeiro é preciso colocar a sua própria máscara de oxigênio para depois cuidar dos outros”.

Dorli Kamkhagi é doutora em Psicologia Clínica, mestre em Gerontologia e pesquisadora do Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sintoma Sexual na relação conjugal

As dificuldades e/ou sintomas sexuais não devem ser ignorados pelo casal. É claro que uma boa vida sexual não é a solução ou a garantia de que o casal viverá bem, mas poderá contribuir na solução e/ou evitar alguns problemas.

A sexualidade é um dos instrumentos dentro da relação, significa o contato físico mais intimo do casal, assim os distúrbios e/ou sintomas sexuais são conseqüências de distúrbios e dificuldades da relação, este conteúdo virá para mostrar o que esta acontecendo entre os parceiros e que, por não ter sido mostrado de forma clara, vem metaforicamente através desses sintomas sexuais. 

Muitos sentimentos que não são expressos no cotidiano vão para cama como sintoma.
Como colocado pela Psicoterapeuta Relacional Sistêmica Solange Rosset em seu livro, O casal nosso de cada dia, a falta de respeito pelas características do parceiro pode vim como falta de interesse sexual; a mágoa pela desqualificação que recebe do outro pode vim na forma de ejaculação precoce ou falta de prazer sexual.

Outra questão muito comum entre os parceiros é o ressentimento que acaba, também, se transformando em problemas sexuais.

O ressentimento pode aparecer naqueles casais que pouco conversam ou não negociam de forma clara, não falam de suas insatisfações ou sentimentos e não lidam ou não dão importância para as diferenças individuais de cada um, tudo isso vai sendo empurrado com a barriga ou como dizem por ai “ colocam-se panos quentes”. A conseqüência disso é o ressentimento que se torna desejo de vingança. Esse desejo de se vingar do parceiro, na maioria das vezes, é inconsciente e pode aparecer na forma de sintomas sexuais.

Assim é comum culpar o outro pelo fracasso sexual. Esquecem que num relacionamento tem 50% de cada um. Qual é a sua responsabilidade nisso? Essa é uma pergunta importante para cada um dos parceiros refletirem e, depois, juntos encontrarem alternativas de mudanças.

O sintoma sexual é uma alerta, um denunciador da relação; não deixem de prestar atenção. 

Texto: Camila Ribeiro Lobato